Em abril, quando o mundo volta os olhos para o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o Urbanova celebra não só o mês de conscientização, mas também o segundo aniversário da sede do GAIA em nosso bairro. E ninguém melhor para representar esse momento do que Sara Azibeiro, presidente da instituição, que há duas décadas é movida por um importante propósito promover inclusão, acolhimento e oportunidades para pessoas com autismo e suas famílias.
Aos 75 anos, mãe de três filhos – incluindo Leonardo, de 35 anos, diagnosticado com autismo – Sara transformou a experiência pessoal em ação coletiva. Desde 2005, quando fundou o GAIA ao lado de Laura Helena Dale Franco, ela conduz com firmeza e sensibilidade uma instituição que cresce em estrutura, impacto e relevância.
Hoje, com sede no Urbanova, o GAIA atende cerca de 300 pessoas e representa um verdadeiro marco social na nossa cidade. Nesta entrevista exclusiva à Revista Urbanova, Sara compartilha reflexões sobre sua trajetória, os desafios enfrentados e os sonhos que ainda deseja realizar.
- Olhando para os últimos 20 anos de existência do GAIA, o que mais emociona a senhora ao pensar na trajetória da instituição?
Se não a maior, mas uma das minhas maiores emoções é não apenas ter testemunhado, mas experienciado, de forma superlativa, a potência de uma mãe; o surpreendente poder de transformação e criação das mulheres, quando o bem-estar e vida de seus filhos estão em jogo. Éramos mães, cuja formação acadêmica e experiência profissional nada tinha a ver com a gestão de uma organização. Mães de filhos em condições de saúde severas, excluídos de tudo, nessa vida, com os direitos às necessidades mais básicas e à dignidade violados, que conseguiram com muita determinação e perseverança dar uma reviravolta nessa realidade e trazer, da invisibilidade, toda uma população, beneficiando, assim, não apenas os próprios filhos, mas abençoando os filhos de muitas, muitas outras mulheres. Irredutíveis quanto à ética e a uma busca incessante por excelência, trabalhamos com afinco, anos após anos, sem medir sacrifícios, pessoais e recursos próprios financeiros, entendendo que era preciso estudar para nos capacitar ao que nos propomos fazer. Com isso, conseguimos atrair profissionais valorosos e conquistar a credibilidade de nossos pares e da comunidade. De forma que, hoje, é com muita emoção, alegria e orgulho, que contamos com o respeito e o reconhecimento de nossos pares e a confiança das famílias e dos parceiros que também abraçam a nossa causa.
- A nova sede no Urbanova representa um sonho antigo realizado. Como foi esse processo e o que mudou desde que vocês se instalaram no bairro?
Ao longo do anos, fomos construindo, criteriosamente, o nosso saber, a nossa expertise na questão abraçada. Administrativamente, também, buscamos crescer no conhecimento de boas práticas de gestão. Podemos dizer que fomos nos preparando para alçar voos mais altos. Até que, chegamos ao ponto de precisar de um espaço físico maior para ampliar os nosso serviços e beneficiar mais pessoas. Foi quando recebemos a doação do terreno no Urbanova, cuja iniciativa foi do poder executivo, aprovada, por unanimidade, pelo legislativo de nossa cidade. Daí, de uma forma que eu vejo como extraordinária _ pois, enxergo claramente a ação da Providência Divina em tudo o que vem nos acontecendo, nestes 20 anos_ o sonho da sede própria foi realizado, em curto tempo. A iniciativa privada, representada, especialmente, por três grandes investidores sociais, proeminentes empresários de São José dos Campos, deram os passos decisivos para a construção da nossa sede. Desde, então, outros empresários, pessoas conscientes de sua responsabilidade social, têm se juntado à nossa causa, contribuindo com peças de mobiliário, climatização dos espaços, equipamentos de toda sorte que têm sido necessários. A comunidade do bairro Urbanova, empresas e moradores, e a Revista Urbanova, têm tido um papel precioso e relevante, apoiando-nos nas nossas demandas, sempre que os buscamos. Por fim, as subvenções de projetos via CMDCA e emendas parlamentares e, sobretudo, as parcerias celebradas com o poder público, têm sido essenciais para uma performance marcada pela ética, eficiência e qualidade.
- A senhora costuma dizer que o GAIA nasceu de uma dor, mas também de um propósito. Como a experiência com seu filho Leonardo ajudou a moldar esse trabalho?
Leo, meu filho caçula, bem cedo, aos 2 meses, recebeu o diagnóstico de Esclerose Tuberosa, uma doença que traz consigo um prognóstico de vida curta. Com uma doença sem cura e com grave quadro de convulsões e surgimento de tumores, logo as demandas de cuidados com a sua saúde nos ocuparam, a toda a família, intensamente. Para nós, pais, a sobrevivência do Léo passou a ser a ordem do dia, conjugada com o desafio de proporcionar uma qualidade de vida à família aceitável, sem nos descuidar das demandas naturais dos outros filhos. Apenas com a estabilização do quadro da Esclerose Tuberosa, por volta dos 14 anos de idade, consegui, enfim, voltar a minha atenção, especificamente, para o autismo. Foi aí que, olhando o entorno, e depois buscando diligentemente, encontrei uma grande carência de serviços especializados e um estado de exclusão social impressionante, especialmente, para os jovens e adultos. Vi mais, ainda: muitos pais de pessoas com autismo vivendo a mesma situação desafiadora. Foi nessa época, que o movimento que deu origem ao GAIA teve início. O que era uma questão pessoal, passou a ser um propósito de vida. O objetivo de uma vida digna não apenas para o meu filho, mas para os filhos de todas as outras mulheres. Costumo dizer que o GAIA transforma a dor em esperança. As histórias das famílias acolhidas pelo GAIA confirmam essas palavras.
- Apesar das conquistas, ainda há muitos desafios. Como a comunidade pode colaborar de forma prática com o GAIA neste novo momento?
Apesar das conquistas, ainda há muitos desafios. A comunidade pode colaborar de forma prática com o GAIA neste novo momento de várias maneiras. Uma delas é atuando como voluntário, seja nas frentes sociais, apoiando diretamente nossas oficinas e atividades com os atendidos, ou na área administrativa, contribuindo com organização, comunicação e gestão.
Também é possível ajudar por meio de doações financeiras recorrentes ou pontuais, que garantem mais estabilidade para manter e ampliar nossos atendimentos. Outra forma simples e eficaz é a doação de cupons fiscais sem CPF, que podem ser cadastrados em nosso nome e se transformam em recursos para o projeto.
Além disso, o apoio da comunidade é essencial na promoção da causa do autismo. Compartilhar informações, participar de eventos e defender a inclusão são atitudes que fortalecem nossa missão e ampliam o impacto do GAIA.
- Qual é sua expectativa para o futuro do GAIA e das pessoas com autismo atendidas pela instituição?
As expectativas para o futuro do GAIA e das pessoas com autismo atendidas pela instituição são as melhores possíveis. Nosso desejo é que o GAIA continue ampliando seus atendimentos nas áreas da saúde e da assistência social, alcançando cada vez mais pessoas com TEA e oferecendo suporte de qualidade tanto para os usuários quanto para suas famílias.
Também, esperamos fortalecer parcerias com empresas e instituições privadas, viabilizando o patrocínio de novos projetos, oficinas e atendimentos, além de contar com um número crescente de voluntários engajados com a causa e aumentar as arrecadações para subsidiar a expansão dos nossos serviços e beneficiar novos usuários.
Outro ponto importante é a realização de eventos e campanhas de conscientização sobre o autismo, contribuindo para a construção de uma sociedade mais informada, empática e inclusiva.
Nosso grande sonho é que o GAIA se consolide como um centro de referência no Brasil e, quiçá, no mundo ( sim, sonhamos grande!), no tratamento do autismo, promovendo o desenvolvimento das habilidades psicosociais dos nossos usuários, favorecendo a sua inclusão nos diversos ambientes da sociedade e apoiando suas famílias em cada etapa do processo.
Serviço
📍 GAIA – Grupo de Apoio ao Indivíduo com Autismo
Av. Possidônio José de Freitas, 1250 – Urbanova
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