Quando ouvimos que as crianças “não brincam mais como antes”, quase sempre culpamos a tecnologia, a falta de espaços ou o ritmo da vida moderna. Mas há uma verdade que dói mais admitir: o brincar não sumiu por vontade das crianças, ele foi capturado pelos adultos. A infância virou agenda, evento, conteúdo e tela. O brincar deixou de ser vivido para ser administrado.
Hoje, atividades tomam o lugar das experiências. As ruas foram trocadas por recreações pagas. As brincadeiras tradicionais aparecem apenas como projeto escolar ou tema de festa. O tempo livre virou risco, e o silêncio virou suspeita. Quando tudo é dirigido e supervisionado, o brincar deixa de ser linguagem criativa e passa a ser produto embalado.
Mas há saída, e ela não está em nostalgia. Está em devolver às crianças aquilo que nunca deveria ter sido retirado: tempo disponível, espaços possíveis e adultos presentes. Brincar não exige árvore, brinquedo caro ou cenário ideal, exige liberdade para inventar, explorar, errar e criar sem roteiro. Um quintal improvisado, um canto da casa, uma calçada, uma brecha na rotina já podem reacender o que é próprio da infância.
Transformar esse cenário não é tarefa das crianças, é responsabilidade de quem as cerca. É preciso coragem para confiar, diminuir o controle, observar sem dirigir e sustentar o imprevisível. Proteger não é impedir: é garantir que o brincar caiba no mundo. Quando devolvemos tempo e espaço à infância, ela devolve ao mundo algo que falta cada vez mais aos adultos: presença, criatividade e vitalidade.
Cláudia Del Corto é pedagoga com especialização em psicopedagogia e psicanálise.
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