DA POLTRONA
Por Rosamaria Moreira
(Edição 02 – Junho de 2012)
Diga-se de passagem…
Há muito correm comentários que a Educação no Brasil, embora propaganda em contrário, vai de mal a pior… Tanto mais pelo comportamento e atitudes que alunos e professores – por que não? – assumem em sala de aula. Todos sabemos disso, muitos já vivemos isso e uma infinidade ainda vive. Bem, pelo menos é o quê ficamos sabendo e o quê a Televisão nos mostra… ou não mostra?
Bem, a Televisão nos mostra, casualmente, histórias de professores agredidos de muitas maneiras, mas muito eventualmente soluções ou ações realmente realizadas para conter as ocorrências. Outro assunto:
Também há muito se comenta que a Televisão não ensina nada de bom e muitos pais ainda proíbem ou controlam os horários de exposição das crianças à telinha, que ultimamente está ficando cada vez mais ONA e atrativa. Falando a verdade, a TV ensina, sim, coisas boas e ruins, depende do ponto de vista. Conheço muita gente que, como eu, teve boa parte da sua educação aprendendo, e muito, por meio dela. Mais uma vez, depende de o quê se faz com o conteúdo que ela transmite, da companhia com quem a assistimos e, não pode deixar de ser, das conversas que pais e filhos têm depois dos programas.
Isso é chato? É, assim como muitos programas a que assistimos por pura inércia.
Voltando à questão: a TV ensina? “Ensina”, sim e muito! É a maior escola do Brasil! Duvida?
Se não, vejamos: os telejornais nos ‘enchem’ de notícias sobre instalações de CPIs para investigar e punir políticos e empresários corruptos, acidentes de trânsito – com destaque para aquele, do filho do bilionário que atropelou e matou aquele negro (foi assim na reportagem) – pobre – e pasmem: bêbado!; crimes na Internet: — meu Deus!, postaram fotos da atriz nua!, que maldade! e de uma imensidão de adolescentes grávidas, cujos bebês, ou elas próprias, morrem sem atendimento porque a saúde pública está um caos, além de novos bebês, estes mais afortunados, filhos de jogadores de futebol entre outros. Sem falar na famosa apresentadora que confessa ter sido molestada quando criança… Tudo com destaque, como disse, E PARA INGLÊS VER!
Daí você fala: — oh! que bom! a imprensa denuncia, faz o seu papel, agora os mandantes vão começar a agir e, finalmente, teremos paz e justiça na Terra aos homens de boa vontade! Que lindo!
Então, cansados de más notícias e promessas, decidimos assistir à novela que vem em seguida – afinal, um pouco de romantismo e finais felizes não fazem mal a ninguém, não é? temperam a vida e fazem sonhar, relaxar… e nos espantamos, de novo!: o que é isso? repeteco do telejornal?
Vemos que, contada de outras maneiras, em uma ‒ diga-se de passagem ‒ muito bem escrita, muito bem produzida e melhor ainda representada história, é o mesmo: lá está o milionário, embora muito boa gente, que atropela e mata, mas se arrepende e se culpa; a periguete que quer postar fotos na Internet para arrancar dinheiro do chefe; a mesma periguete, carinhosamente chamada de ‘Maria Chuteira’, que corre atrás do jogador da segunda divisão esperando que ele seja descoberto, se torne um ídolo, para, claro, ganhar milhões em um time da Europa e, obviamente, casar-se com ele e, mais obviamente ainda, ter um filho com ele; que remete ao conselho edificante da protagonista do mal para a protagonista do bem: “Ah! Ele é rico? Então, minha filha, antes de mais nada: faz um filho com ele!… Sem esquecer das crianças criadas e exploradas no lixão… Ah! você vai dizer, ainda faltam os políticos e empresários corruptos… Mas eles virão, com certeza. Aí, a história ficará completa. Completa e igual a tantas outras.
Realidade ou ficção? Quase não dá mais para saber… E a TV ensina, aos menos avisados, a depreciar leis, valores e princípios em nome de uma modernidade duvidosa e inconsequente.
Pois é. É o que eu vejo, daqui da minha poltrona…
EM TEMPO, uma confissão desta colaboradora que vos fala: sou apaixonada por boas telenovelas!
ATÉ A PRÓXIMA!
Rosamaria Moreira é professora e especialista em Teledramaturgia