Os desafios da Educação na Pandemia

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Até quando?

Após 1 ano de pandemia no Brasil, essa é a pergunta que todos se fazem. A saúde, sem dúvida, está em primeiro lugar na lista de preocupações sobre as consequências da Covid-19, porém outros aspectos também geram angústia e insegurança. Como o comércio irá sobreviver? E essas desavenças políticas? É um cenário complexo.

Hoje vamos focar nos impactos da pandemia na Educação.

Crianças e adolescentes precisaram de uma rápida adaptação para o ensino online. As escolas tiveram que se empenhar para encontrar as melhores ferramentas tecnológicas. Os professores se desdobram para desempenhar da melhor forma possível o valioso trabalho de ensinar. Foram meses de aulas 100% online  e a pergunta continua sendo: Até quando?

Recentemente, o ensino híbrido, passou a ser a realidade de muitos estudantes. Será que cumpre bem o papel? Será que as crianças vão aprender de maneira satisfatória? E o desgaste emocional?

Segundo a quinta edição da pesquisa Datafolha  “Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias” encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Imaginable Futures, mais da metade dos pais entrevistados acredita que a pandemia deixará prejuízos no processo de alfabetização e aprendizagem de crianças e adolescentes. Foram entrevistados 1.015 pais ou responsáveis de alunos das redes públicas municipais e estaduais entre 16 de novembro a 2 de dezembro de 2020.

Dos adolescentes entrevistados, 58% percebem que o isolamento trouxe problemas emocionais. De acordo com eles, é alta a probabilidade de que alunos do ensino médio desistam de estudar.

Para 65% dos responsáveis, crianças matriculadas na pré-escola  terão o desenvolvimento comprometido. Para estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental, 69% afirmam que os filhos vão sofrer com atraso na educação.

De setembro a novembro de 2020, subiu de 24% para 30% o número de pais ou responsáveis que são favoráveis ao retorno das atividades escolares de forma presencial. A principal justificativa são os danos acumulados pelo ensino remoto.

São muitos questionamentos, não é? Por isso, convidamos a pedagoga especialista em psicopedagogia e psicanálise Cláudia Del Corto para esclarecer essas dúvidas e orientar os pais nesse momento de adaptação e resiliência.

Professora, os dados da pesquisa apresentados acima preocupam. O que é possível ser feito fazer para amenizar esses impactos?

Não temos a dimensão completa do que isso irá implicar em nossas vidas a longo prazo e teremos que lidar com as consequências por um longo período, por isso torna-se fundamental trabalhar aspectos adaptativos e mobilizar a resiliência.

Para isso é necessário compreender a situação que estamos vivendo e não negá-la. Entender que não temos respostas e controle de tudo, mas que podemos cuidar de nós e de nosso espaço. Diante das dificuldades, analisar os recursos (emocionais, cognitivos e materiais) que temos e buscar alternativas para lidar com a situação. Perguntar: o que é preciso fazer e o que eu posso fazer com o recurso que tenho para realizar isso? É necessário? É possível? Caso não, quais minhas alternativas? Em muitos casos compartilhar estas reflexões pode ser crucial para um posicionamento mais acertado.

Como os pais podem ajudar os filhos nesse momento de tantas adaptações?

A família tem um papel fundamental durante a vida  dos filhos no sentido de apoiá-los em  contextos de adaptação.  Diante do momento vivido com a pandemia,  intensificou-se ainda mais  a necessidade deste apoio frente as bruscas  mudanças que nos são apresentadas.

O adulto deve comunicar que entende que as mudanças nem sempre são fáceis, mas que vão se organizar juntos para o momento. Rever a rotina, organizar os espaços em conjunto. Não só cobrando, mas partilhando e participando junto dessa experiência.

Manter e incentivar a experiência da rotina de forma presente na vida da família. Uma rotina construída em conjunto, onde cada um preserva seus momentos pessoais e particulares, bem como criam espaços coletivos de convivência.  Sentar juntos e pensar numa tabela semanal em que inserem estes momentos individuais e coletivos. Daí podem surgir novas possibilidades de convivência familiar.

Incentivar os filhos diante das atividades que precisam realizar por meio de conversas, por exemplo, acompanhando e se interessando sobre o que estão fazendo e volto a dizer, não só cobrando se fez ou não. Mas apoiar e ver como é possível realizar o que precisa. Assim, valorizar as pequenas conquistas que percebe e comunicar esta percepção das atitudes.  Dizer que estamos vivendo um novo momento  que não tem respostas para tudo, mas  que vão passar por isso juntos. Lidar com o que é possível e necessário no momento e  ressaltar que  mesmo as vezes sendo mais difícil algumas experiências ( escola remota, ausência de atividades sociais), eles podem contar com a família e juntos irão buscar  soluções para que consigam realizar o que é preciso.

É possível aprender de maneira satisfatória no ensino online?

A posição segura do adulto neste momento é necessária. Ao pensar que aprender representa  mudança  de posição diante do lugar que nos encontramos, temos que compreender que a situação nova nos mobilizará para novas aquisições se assim nos abrirmos. Não será do mesmo jeito que estávamos habituados, mas que podemos aproveitar as circunstâncias para  pensar sobre  como lidar com esta nova condição. O contexto de ensino remoto se bem explorado mobiliza maior precisão na forma de expressar nosso pensamento e isso favorece rever e ajustar nossa compreensão quando temos que formular perguntas escritas ou orais, adequar nosso foco de atenção sustentada e dividida.Também nos ajuda a criar ritmos pessoais de concentração , concomitante com momentos de distração que são fundamentais. Não adianta dizermos que está muito chato, cansativo e que eles não conseguem se manter na aula sem se distrair com jogos e vídeos no YouTube por exemplo. Assim uma sugestão é  ajudar a criar estas tempos de trabalho e distração. Dizer que entendem que isso pode acontecer, mas o que é  necessário para que se mantenham na atividade da escola. Construir caminhos que a vontade de dividir a atenção com outras atividades pode aparecer e que quando isso acontecer, estabelecer combinados de isso ser realizado em outro momento e estabelecer  este momento. Conversarem sobre isso com frequência e irem construindo na rotina o período  que é  necessário  estar mais focado , como na aula e tempos que podem realizar outras atividades. Ajudar a construir possibilidade de auto-regulação. Por isso o acompanhamento de perto, as conversas sobre essa vivência são primordiais.

E sobre o aspecto emocional, como lidar?

Vivemos o tempo da incerteza. Como já apontei, não temos respostas para tudo e cada dia traz algum novo desafio na esferas federais, estaduais e municipais. Em termos emocionais a incerteza nos coloca diante das faltas e perdas que acentuam a ansiedade, o estresse, falta de foco, falta de perspectiva e o medo.

Acredito em estratégias que  incluem a criação de um espaço na experiência de convivência  para que todos possam compartilhar os sentimentos e as formas com que cada um está lidando com eles . Eleger um momento da semana para esta troca  pode ser uma ideia interessante. Criar uma caixinha com temas que destacam assuntos a respeito de “como estamos nos sentindo”, “como estamos lidando”, “o que mais poderíamos fazer com isso que sentimos?” Mas de modo em que todos participem e se escutem. Sem julgar ou  banalizar o que é comunicado.

Mostrar por meio da presença segura que os adultos mesmo diante da situação incerta do momento, estão ali para ajudar os filhos a passar por isso que estão vivendo juntos. Dizer a eles que entendem que está difícil, mas que estão ali para o que precisarem. Legitimar a presença. Não diminuir ou desprezar as tristezas, ansiedades e medos, nem prometer coisas que não são possíveis. Quando o filho se queixar e reclamar da situação, comunicar que o entende diante da perda de algumas atividades da rotina, do encontro com os amigos entre outras preocupações que apareçam. Ser criança e adolescente num contexto de pandemia é algo inédito, a eles e a nós adultos. Legitimar o sentimento e não compará-lo com contextos que você adulto considere pior, ou dizer que pelo menos o filho tem os pais ou tem uma escola e uma casa. Isso não irá ajudar! Trará a sensação de não ser compreendido. Validar o que trazem em sua expressão e dizer que imaginam sim, o quanto está difícil ser criança ou adolescente neste momento, mas que estão ali para o que precisarem. Devemos lembrar que crianças e jovens apresentam maior resiliência que os adultos e de fato podemos aprender com eles. Criar espaços coletivos de convivência: cinema em família no qual crianças, jovens e adultos se revezam na escolha dos filmes, cozinhar juntos onde cada um ajuda em uma tarefa, jogar jogos de tabuleiro….

Além do mencionado anteriormente, vale traçar metas possíveis e manter a alimentação equilibrada, realizar  atividade física regular como  complementos importantes às dicas partilhadas para enfrentar esse momento.

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