Por Tais e Roberta Bento
O João bateu em alguém hoje? A professora deixou você ser o ajudante do dia? Você não tomou seu suco porque ninguém ajudou a abrir a garrafinha?
Na ânsia de saber como foi o dia na escola, os pais começam a sabatina enquanto caminham do portão até o carro. E não há nada se errado em querer saber como foi aquela manhã ou tarde que seu filho passou longe de você.
Para o bem de nossos filhos, devemos estar atentos, porém, ao tipo de pergunta que fazemos e na expectativa de resposta que geramos.
Na maioria das vezes, o foco não é realmente saber como foi o dia, mas conferir se alguma situação se repetiu ou não. E a forma como a pergunta é feita transmite ao seu filho a exata intenção que você tenta omitir.
O resultado é que a criança, na expectativa de não decepcionar os pais, tende a responder misturando memórias recentes com acontecimentos anteriores, muitas vezes de dias ou semanas passadas.
A criança muito rapidamente percebe que chama mais a atenção quando sua resposta confirma a expectativa dos pais! E não necessariamente ela vai sempre criar mentiras. Pesquisas comprovam que nosso cérebro reconstrói lembranças de acordo com o momento em que falamos sobre elas. Para simplificar, podemos dizer que salvamos aquele documento sempre com as alterações que ele sofreu quando falamos sobre ele. E o ambiente impacta as edições que fazemos em nossas memórias.
Mesmo que de forma inconsciente, nosso desejo maior é mesmo conferir se a escola tomou as providências combinadas em situações anteriores. É tentar investigar se aquele coleguinha “que não para quieto” foi devidamente vigiado. E assim, lá se vai a oportunidade de saber realmente como foi o dia do seu filho.
Ao perguntar para seu filho se o colega bateu em alguma criança “novamente”, ele imediatamente mistura os acontecimentos que de fato vivenciou naquele dia com sua expectativa da resposta “sim, ele bateu de novo!”. Dependendo da faixa etária da criança, ela é capaz de relatar em detalhes a cena. E grandes chances de que o relato misture fatos que aconteceram no dia com memórias de outras ocasiões, as quais foram acessadas a partir do formato da pergunta que recebeu.
Pode parecer complicada a lógica, mas a solução é simples! Duas dicas podem ajudar para que você realmente descubra como foi o dia na escola:
1 – ao invés de tentar conferir se algo específico aconteceu, converse sobre sensações e emoções. Alguns exemplos são: Qual foi a atividade mais legal de hoje? O que você menos gostou de fazer na aula? O que foi mais gostoso no recreio? O que foi chato na aula hoje?
2 – brinque de escolinha com seu filho quando chegar em casa. Você deve assumir o papel de aluno e seu filho o de professor. Enquanto age como criança, observe as reações, humor e a maneira como ele trata você. Caso perceba alguma atitude agressiva ou estranha, não comente com ele ou perto dele. Basta marcar uma conversa com a coordenação da escola e aí sim, juntos, vocês podem ajudar seu filho e a turma toda a terem momentos inesquecíveis de aprendizagem na escola!
Taís e Roberta Bento são idealizadoras do Projeto SOS Educação