Por Patricia Nuñez
Como síndica, percebo que há muita dificuldade em tratar de situações de conflito que surgem em condomínios e associações. Temos que manter todo o funcionamento do condomínio ou da associação e ainda produzir as informações e os esclarecimentos necessários aos condôminos e moradores sobre os novos procedimentos que vão sendo adaptados para atender a legislação e o bem-estar de todos.
Não é surpresa que dentro de uma mesma coletividade convivam vários grupos diferentes, com anseios diversos e uma visão heterogênea do que seriam as suas e as prioridades coletivas. Tentamos ao máximo adotar medidas que atendam a maior parte dos moradores, mas podem existir alguns que tenham necessidades sociais de confraternizar ou aqueles que sofram um pouco mais com situações que fogem ao seu controle. Enquanto síndicos, tenho certeza de que podemos e devemos ter em mentes estas necessidades.
Dentro da minha experiência na administração de condomínios e associações, noto que o melhor caminho é a transparência e a divulgação frequente de informações sobre os motivos que levam à tomada de decisões pela gestão. É importante que os moradores compreendam a razão pela qual existem restrições de horários e de procedimentos que a gestão solicita. Ao deixar claro às pessoas os seus direitos e obrigações dentro do todo, geramos empatia em nossas condutas e minimizamos o peso da responsabilidade nas decisões mais difíceis.
Vale a pena se manter informado sobre as leis mais recentes que surgem e de preferência consultar os diversos profissionais especializados que atendem o condomínio. Para serviços necessários ou situações urgentes, desde que não gerem prejuízo maior aos demais moradores, o síndico precisar ter a sensibilidade de se colocar no lugar da pessoa para verificar se se trata de uma exceção justificada ou de uma regra inócua. Do mesmo jeito que o síndico precisa fundamentar as decisões, podemos conversar com o morador para saber se há urgência ou não, fazendo-o refletir sobre suas reais necessidades.
É importante reconhecer, então, que não somos neutros, logo, a escuta não trabalhada tende a ser parcial. Deve-se praticar com questionamentos, focar no “para quê” (visando a construção do futuro) e buscar entender como o outro sentiu ao ouvir a versão alheia. Esse aperfeiçoamento depende de estarmos 100% presentes. É um jogo relacional de disponibilidade: estar presente e disponível gera empatia na parte, que a torna mais participativa.
Daí a importância da normalização, tentando fazer entender que o conflito não é uma aberração, afinal, seres humanos são sociais, relacionados e conectados, mesmo quando estão em conflito. É possível e desejável a busca do equilíbrio pela transformação nos processos internos individuais para administrar melhor os conflitos.
Patrícia Nuñez é síndica profissional, especialista em Gestão de Condomínios,
palestrante, mediadora de conflitos, colunista do portal Papo Condominial,
praticante de CNV (Comunicação não violenta) em condomínios.
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